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“É fundamental alcançar a neutralidade climática na Europa, mas é ainda mais importante conseguir escalar e exportar soluções que possibilitem a descarbonização do resto do mundo”. —Luís Rebelo junta-se à Cleantech for Iberia

January 9, 2025

Desde o seu lançamento em 2023, a Cleantech for Iberia tem representado a voz dos pioneiros que desenvolvem, implementam e investem em tecnologias limpas em toda a Península Ibérica. Através da colaboração com a nossa diversificada coligação de investidores líderes espanhóis e portugueses, inovadores, universidades, incubadoras e bancos, colmatamos o fosso entre a nossa comunidade cleantech e os decisores políticos e facilitamos a expansão das tecnologias limpas na região.

Para reforçar a nossa estratégia e a nossa equipa, Luís Rebelo junta-se à nossa equipa e lidera agora os esforços tanto para a Cleantech for Iberia como para a iniciativa Cleantech for Europe. Luís tem uma profunda experiência em legislação climática e de sustentabilidade, tendo trabalhado anteriormente no Parlamento Europeu durante mais de cinco anos. Durante esse período colaborou também com o Cleantech Friendship Group.

O Luís tem uma experiência académica sólida, tendo completado dois mestrados e estando atualmente a realizar um doutoramento em Gestão, com foco emsustentabilidade. Traz consigo um profundo conhecimento da elaboração de políticas nacionais e europeias, juntamente com experiência e perspetiva estratégica. As suas competências em gestão institucionais, negociação, planeamento estratégico e compreensão dos processos legislativos nacionais e europeus reforçam a nossa ambição de políticas mais ambiciosas para apoiar empresas europeias que sejam líderes globais de tecnologias limpas.

O que te motivou a juntares-te à Cleantech for Iberia?

Este é um passo natural na minha carreira. Depois de trabalhar e dar o meu contributo para o desenvolvimento de metas climáticas e de sustentabilidade mais ambiciosas, onde sempre defendi uma conjugação de crescimento económico com proteção ambiental, quis contribuir para mudanças tangíveis numa área que considero crítica para o crescimento económico europeu: a inovação e o desenvolvimento de empresas bem-sucedidas de tecnologias limpas.
Sempre tive interesse pela inovação e tecnologia. Quando comecei a trabalhar no Parlamento Europeu, as iniciativas que combinavam inovação, sustentabilidade e tecnologia chamaram imediatamente a minha atenção. A partir daí, comecei a colaborar com o Cleantech Friendship Group, onde tive o meu primeiro contacto com a Cleantech for Europe. Desde o início ficou claro que partilhávamos objetivos: promover a inovação europeia, desenvolver as tecnologias limpas e a indústria europeia como pilares para o crescimento económico e a luta contra as alterações climáticas.

Temos uma oportunidade única, no espaço das tecnologias limpas, não apenas para dizer, mas para provar que crescimento económico e combate às alterações climáticas não são incompatíveis, mas sim complementares.

Olhando para os próximos meses do novo mandato das instituições europeias, quais são as principais áreas a focar?

Estamos no início de um ciclo legislativo absolutamente crucial não só para o sector das tecnologias limpas, mas também para o futuro da indústria europeia em geral. A Comissão Europeia está a trabalhar numa série de tópicos importantes, com o Clean Industrial Deal no topo das prioridades, e temos vindo a analisar a realidade há já algum tempo. Lemos e debatemos os relatórios Letta e Draghi e agora sabemos melhor o que a Europa precisa de mudar: precisamos de uma atenção especial à competitividade e de uma abordagem mais pragmática e orientada para as empresas. Não é através da desindustrialização que atingiremos qualquer dos nossos objetivos. O empobrecimento não é solução. Pelo contrário, temos de criar argumentos económicos para as tecnologias que podem descarbonizar a indústria europeia.

As empresas europeias estão a pagar muito mais, por vezes até o triplo, pela energia do que alguns dos nossos concorrentes mundiais. Temos de fazer baixar os custos da energia - e para isso precisamos que a União da Energia seja uma realidade. Chegou o momento de investir e construir as interconexões que estão a ser adiadas há mais de uma década, temos de criar procura por tecnologias que podem revolucionar a nossa indústria.

Mas precisamos também de ser mais assertivos em relação ao resto do mundo. A Europa tem de se afirmar no panorama global e falar mais alto quando se trata de defender a Europa, a nossa indústria, os nossos empregos e a nossa prosperidade. E temos de o fazer rapidamente e com ações concretas, garantindo, no mínimo, a reciprocidade dos outros intervenientes. A diplomacia climática e comercial está a tornar-se mais divisiva. Por muito que defendamos o comércio livre, não podemos ter comércio livre sem reciprocidade, essa é a essência do comércio livre. Seria como correr uma maratona com uma perna partida. É extremamente importante dispor das políticas comerciais corretas para proteger a nossa indústria.

Por último, temos de ter em mente que esta é uma corrida dupla: uma corrida para o topo em termos de indústria e uma corrida para o fundo em termos de emissões. A Europa é responsável por cerca de 6% das emissões globais. Dito isto, é fundamental alcançar a neutralidade climática na Europa, mas é ainda mais importante criar, aumentar a escala e exportar as soluções que descarbonizarão o resto do mundo.

Há medidas concretas que consideres fundamentais defender no futuro?

Há várias áreas que posso mencionar. No domínio do comércio internacional, por exemplo, temos de ser mais inteligentes e mais corajosos. Temos de combater a concorrência desleal de empresas de outros países, que está a acontecer, em particular da China. Temos de enviar fortes sinais de procura para apoiar as tecnologias onde somos líderes e garantir concorrência leal para os produtores locais.

No que respeita aos investimentos, temos de melhorar a nossa união dos mercados de capitais, a União da Poupança e dos Investimentos, tornar a Europa atrativa para os investidores e aprofundar o nosso mercado de capitais. Precisamos de fazer melhor e promover soluções financeiras que são importantes para as empresas, quer se trate de capital de risco, financiamento misto, garantias públicas, dívida ou outras soluções. E precisamos de tornar a Europa mais propensa ao risco; isto é particularmente verdade para os investidores institucionais necessários para atrair mais investimentos de capital de risco e colmatar as lacunas de investimento que temos. As instituições públicas têm um papel a desempenhar - sem investir diretamente dinheiro público. Por exemplo, as garantias públicas podem desbloquear os investimentos privados de que necessitamos.

Mas podemos ir mais longe.

Na revisão de 2026 do Comércio Europeu de Licenças de Emissão (CELE), devemos ter como objetivo a inclusão das emissões negativas. A inclusão de emissões negativas no CELE aumentará o investimento em tecnologias de remoção de carbono - que já sabemos serem fundamentais para alcançarmos a neutralidade climática em 2050 e limitarmos o aquecimento global a 2,0 graus em relação aos níveis pré-industriais, tal como declarado pelas Nações Unidas. As tecnologias de remoção de carbono, que atualmente são dispendiosas, podem crescer com o acesso a energias limpas e representar um salto em frente na procura de créditos de remoção de CO2 com a sua inclusão no CELE.

A Europa não pode deixar de dar escala às tecnologias limpas estratégicas, sob pena de perder a sua vantagem tecnológica e de ver os seus concorrentes colherem os empregos e a prosperidade que a revolução das tecnologias limpas irá criar.

Está sediado em Portugal, que se tornou uma potência no domínio das energias limpas. Há algumas ideias que gostaria de partilhar do contexto português que sejam relevantes para o resto da Europa?

Existe um consenso social e político sobre a transição energética em Portugal, o que permitiu que o país se tornasse pioneiro em muitas tecnologias. Por exemplo, em 2024, 71% da energia consumida no país foi proveniente de fontes limpas e renováveis. Mas estamos também a avançar na descarbonização da indústria. Portugal abriu recentemente um concurso para investimentos estratégicos para uma economia descarbonizada, com mais de mil milhões de euros de financiamento, centrado em tecnologias-chave como eletrolisadores, bombas de calor, baterias e CCUS, entre outras.

Portugal tem cada vez mais capacidade para atrair a indústria e tirar partido da abundância de energia limpa, da mão de obra qualificada, do apoio público à transição energética e de um regime fiscal cada vez mais atrativo. A disponibilidade de energias renováveis também torna Portugal menos dependente do gás natural e mais resistente a crises energéticas ou conflitos, como o da Rússia. Temos as condições certas para atrair cada vez mais empresas de tecnologias limpas e para nos estabelecermos como um país de referência para os investimentos em tecnologias limpas. Há ainda um trabalho grande a fazer em termos de facilidade de licenciamento e atratividade fiscal, mas sabemos que o país está a olhar para essas dimensões também.

Está a trabalhar na Cleantech for Europe e na Cleantech for Iberia desde novembro. Há algum ponto alto do seu mandato que gostasse de partilhar?

Claro! Na Cleantech for Europe diria que a oportunidade de estar na linha da frente da discussão do Clean Industrial Deal tem sido uma oportunidade fantástica de contribuir para uma Europa mais competitiva, industrializada e descarbonizada. Vindo do Parlamento Europeu, estou muito habituado ao processo legislativo e à possibilidade de contribuir numa fase posterior, quando os dossiers chegam ao Parlamento. Aqui podemos contribuir mais cedo e em estreito contacto com os inovadores e investidores, sendo a sua voz no processo. Trabalhamos mais perto dos inovadores e da indústria, portanto, também mais perto das pessoas que estão, de forma muito concreta e visível, a trabalhar diariamente para que a Europa se mantenha competitiva e para implantar as novas tecnologias de que precisamos!

Na Cleantech for Iberia, posso destacar dois momentos importantes: a participação na principal conferência de tecnologia, a WebSummit, durante a qual tive a oportunidade de moderar um painel sobre como fazer da Ibéria um hub industrial limpo. Foi uma excelente oportunidade para mostrar como Portugal e Espanha têm condições para se tornarem líderes industriais. Gostaria também de destacar a primeira reunião da coligação Cleantech for Iberia em Portugal, que teve lugar em Lisboa, em dezembro. Convidámos muitos stakeholders, com mais de 30 organizações à mesa, para discutir o financiamento do ecossistema de tecnologias limpas da Península Ibérica. Foram dois momentos em que sentimos que o nosso trabalho diário tem significado muito para o ecossistema local e que estamos no caminho certo!